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A Mitologia Fadista
A mitologia fadista é um livro que nos dá a visão do sector contrário ao Fado e que explica através do ponto de vista sociológico e antropológico o porquê deste estilo musical ter conotações maioritariamente negativas. No fundo, António Osório, advogado comunista nascido em 1933, faz uma denúncia do Fado através de um lado mais analítico: primeiro, através das teorias da génese do Fado, até aos mitos fabricados pelo Fado, como o de Severa, Conde de Vimioso; e outras histórias de crime e de vício que, na visão do autor, carregavam o Fado com uma conotação antissocial.
Cantigas de Trovadores – De Amigo, de Amor, de Maldizer
Entre o século XII e o século XIV, a Penínsual Ibérica assiste ao nascimento de uma arte poético-musical cuja riqueza não cessa de nos surpreender. Inserindo-se no culturalmente fértil movimento artístico europeu, "o tempo dos trovadores", e utilizando não já o Latim, mas a língua já falada no Noroeste peninsular, o Galego-Português, a arte dos trovadores e jograis constitui um dos mais valiosos patrimónios culturais da Idade Média peninsular. Desaparecidas e redescobertas em meados do século XIX, as cantigas trovadorescas nunca deixam de nos desafiar, ao nível literário e artístico, suscitando criações contemporâneas, que asseguram a sua actualidade. Peunindo 17 temas de cerca de 1680 que chegaram até nós, esta antologia pretende ser uma justa homenagem às origens da língua e da literatura em Português.
Fado
Fado (1941) partilha daqueles traços marcantes da poesia do autor evidenciando uma faceta trágica e expressionista que por momentos atinge algum paroxismo. O sujeito lírico revela-se sensível à tragédia de tipos sociais e humanos afligidos por uma chaga moral, um fado, e que não vislumbram nem encontram qualquer oportunidade social de se realizarem. Há neste livro (cf. “Fado dos Pobres”), como nalguma da sua narrativa, vultos humanos e sociais - velhos, prostitutas, dementes, estropiados, artistas marginais, mulheres desencantadas- dignos de Raul Brandão. Constata-se uma atenção ao “pathos” feminino (“Fado das mulheres de vida fácil”), que aliás também atravessa a galeria feminina da narrativa do autor (nomeadamente no mencionado livro Histórias de Mulheres) e uma espécie de reconciliação amarga ou comunhão secreta com estas almas perdidas (cf. “Fado do Amor”; “Fado-Canção”).
Grandes Aventuras de um Pequeno Heroi
Ficou conhecida pelo seu espírito irreverente e pela sua actividade política e cultural mas poucos sabem que Natália Correia se estreou na escrita, em 1945, com um romance infantil: Grandes Aventuras de um Pequeno Herói. Uma história que já revelava todo o talento da escritora e que ainda hoje revela potencialidades para conquistar o público mais jovem - e não só.
História do Futuro
«Nenhuma coisa, senhor, se pode prometer à natureza humana, nem mais conforme a seu maior apetite nem mais superior a toda sua capacidade, que a notícia dos tempos e sucessos futuros; e isto é o que oferece a Portugal, à Europa e ao mundo esta nova e nunca ouvida História. As outras histórias contam as coisas passadas; esta promete dizer as que estão por vir.» Padre António Vieira. José Eduardo Franco, historiador, doutorado pela EHESS de Paris, coordenou com sucesso vários projetos de investigação, entre os quais o Arquivo Secreto do Vaticano. Publicou estudos sobre Vieira, os jesuítas e o marquês de Pombal. Pedro Calafate, historiador e professor catedrático da Universidade de Lisboa, especialista no barroco e no racionalismo iluminista do século XVIII. Foi distinguido com o Prémio Aboim Sande Lemos da UCP pela obra A Ideia de Natureza no Século XVIII em Portugal.
Histórias da Minha Rua
De Maria Cecília Correia, Histórias da Minha Rua é uma colectânea de nove contos sugeridos por elementos do quotidiano, animais, plantas, objectos e pessoas. Estas pequenas histórias que estimulam a imaginação datam de 1953. As ilustrações são de Maria Keil e captam os elementos centrais de cada uma das narrativas com uma riqueza estética e um cuidado plástico evidentes.
Jogo da Cabra Cega
Jogo da Cabra Cega foi o primeiro romance de José Régio, editado pela Presença. Foi posto à venda por voltas de Outubro de 1934 e cerca de três meses depois seria proibido, precisamente em 24 de Dezembro desse ano, sendo apreendidos todos os exemplares existentes nas livrarias e na editora.O mais curioso desta questão é que os “ponderosos” motivos indicados pelos censores não assentaram numa base política, mas moral. Pelos anos sessenta, três décadas após a apreensão, ainda nos serviços da censura se aludia às várias “indecências” contidas no Jogo da Cabra Cega assim como às largas descrições do seu realismo assaz “escabroso”.Jogo da Cabra Cega levanta questões interessantíssimas, como a das consequências de diversa ordem que o caso terá provocado no autor, a da intrínseca validade literária da obra e a sua inserção na restante produção regiana.
Mensagem
Mensagem é o único livro de poemas de Fernando Pessoa publicado em português durante a sua vida. É também «realmente um só poema», como escreveu, dada a unidade perfeita conseguida pelo seu canto das grandezas passadas da nação - que se reflectem no futuro, potenciadas pelo Quinto Império.
Sem a simetria de composição nem a vastidão narrativa da epopeia clássica, é a obra minimal de um Supra-Camões concentrado na construção de um mito, o de D. Sebastião, entendido como a síntese da ousadia dos heróis anteriores e como a promessa de um «dia claro» por vir.
O Encoberto
Publicado em 1969, O Encoberto conta a história de Bonami-rei que se faz passar pelo rei D. Sebastião, com o cognome de O Encoberto ou O Desejado. A história depreende-se em várias críticas a um povo crente, iludido, que não quer ver a realidade e, ao mesmo tempo, a uma falsa nobreza, interesseira, que só pensa em dinheiro. Mas mais. Segundo o relatório da censura, de 1970, “trata-se do desenvolvimento em estilo ‘paródia’ de assunto histórico, com não poucas pinceladas pornográficas, à maneira de ‘Natália Correia’, com alusões ao povo português ou a figuras históricas com expressões de chacota e uma clara intenção de ridicularizar”.
Quando os Lobos Uivam
Serra dos Milhafres, finais dos anos 40, o Estado Novo resolve impor aos beirões uma nove lei: Os terrenos baldios que sempre tinham sido utilizados para bem comunitário e onde essa comunidade retirava parte vital do seu sustento, seriam agora “expropriados” e esses terrenos utilizados para plantar pinheiros. Assim, sem mais nem menos, o Estado chega e diz que, a partir daquele momento, acabou. Implanta-se um clima de medo nas gentes e é esse clima que Manuel Louvadeus, que havia emigrado para o Brasil anos antes, vem encontrar quando regressa à aldeia. Homem vivido e culto devido, segundo o próprio, aos muitos livros que por lá havia lido, Manuel tem uma visão para os dois lados e um sentido de justiça que rapidamente o fazem cair nas boas graças das gentes do povo. Toma então parte da sua gente, homens honestos e humildes que trabalham de Sol a Sol mas que não deixam de viver em condições miseráveis. A revolta acaba por suceder e entre mortos e feridos tudo acaba numa caçada aos homens por parte da polícia que leva muitos homens à prisão acusados de serem instigadores e cérebros da revolta. O Estado mostra então todo o seu esplendoroso poder. Aqui representado está a saga dos beirões na defesa dos terrenos baldios perante a ditadura do Estado Novo.
Refúgio Perdido
Foi escrito em 1948 e publicado em 1950, no ano seguinte à morte do seu autor, Soeiro Pereira Gomes. Refúgio Perdido reúne um conjunto de contos e crónicas do autor, integrando também uma breve entrevista primeiramente publicada a 10 de Fevereiro de 1943. Em 1951, os Serviços de Censura requisitaram à editora responsável - Sociedade Editora Norte - uma justificação para o livro não ter sido submetido e directamente publicado. O facto do autor ser um escritor de ficção (e não versar sobre assuntos políticos e sociais) e da obra ser uma compilação de outros materiais já submetidos a censura prévia foram as explicações dadas. Ainda assim, Refúgio Perdido foi retirado do mercado.
Vagão J.
Vagão J, de 1946, cuja origem do título é mantida em mistério até aos últimos parágrafos do romance, é o romance neo-realista, dos poucos que Vergílio Ferreira escreveu. É a história da família Borralho, família representativa do patamar mais baixo da escala social, numa vila rural no princípio do século XX. A obra transmite uma realidade sem qualquer encenação artificial da cruel forma de viver desses tempos, das assimetrias das classes sociais, dos padrões de comportamento e da psicologia individual e colectiva representativa desses tempos. Mas os Borralho também são “uma família de degenerados, sem escrúpulos, sem carácter, sem dignidade”, escreveu o Capitão Borges Ferreira no seu relatório de censura. “O romance gira todo em volta destas misérias sociais (...) sou de opinião que o livro não deve ser publicado”.