A Mansão de Ashworth

A cidade de Coimbra não foi das mais precoces a erigir as primitivas estruturas políticas do movimento republicano. Na verdade, o primeiro centro democrático nasceu em 1878, oito anos depois do pioneiro periódico local antimonárquico, O Trabalho, ter vindo a lume. Desde então, a cidade assiste à evolução e ao crescimento de um partido que irá alcançar o poder com a implantação da República. Coimbra espelha de modo peculiar os principais factos políticos, sociais, económicos e culturais que deram corpo à vida nacional nos últimos quarenta anos da Monarquia, durante a I República e no decurso na Ditadura Militar. Ora ressoa esses acontecimentos na multiplicidade de instituições que acolhia, ora se afirma como centro de transformação das elites nacionais que protagonizaram a história política e cultural portuguesa, uma vez que em Coimbra estava sediada a única universidade existente até ao triunfo do regime republicano.

A notícia da implantação da República chegou a Ponta Delgada como um facto já consumado e perante o qual já nada havia a ripostar. Apenas no dia 6 de Outubro, e por intermédio da Agência Havas, o Diário dos Açores anunciou, timidamente, a proclamação do novo regime, sem grandes manchetes. Depois de um silêncio de quarenta e oito horas, os responsáveis fizeram então chegar às ilhas a comunicação oficial, garantindo existir a maior tranquilidade em Lisboa e no país. Daí, o eloquente editorial de 8 de Outubro do vetusto Açoriano Oriental: “Contra a expectativa da maioria e em harmonia com as previsões de muitos, que a davam para próximo, recebeu-se nesta cidade quarta-feira última à noite (...), a notícia de ter sido proclamada a República em Portugal. Na nossa qualidade de monárquicos, conforme com a orientação que, desde o seu início, tem sempre servido de norma a esta folha, pertencemos ao número daqueles a quem a notícia surpreendeu e, digamos, chocou. Não se contemplam e amam, impunemente, umas instituições durante uma vida inteira, para que o desaparecimento brusco do seu campo de acção deixe de impressionar. E foi o que sucedeu.(...)”